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Martha Gellhorn

          Martha Gellhorn (08 de novembro de 1908 - 15 de Fevereiro de 1998) foi uma romancista americana, escritora de viagens e jornalista , considerada uma das maiores correspondentes de guerra do século 20. Ela relatou praticamente todos os grandes conflitos mundiais que ocorreram durante sua carreira de 60 anos. Foi  a terceira esposa do romancista norte-americano Ernest Hemingway de 1940 à 1945.


   Gellhorn começou por acaso na profissão. Judia e pacifista, virou militante antifascista por conta do nazismo, que apoiava o franquismo na guerra na Espanha. Foi para lá não para escrever, mas, com uma carta de apresentação da "Collier's", foi convencida a relatar o que via em Madri. A revista pediu mais.
Sua descrição, de 1937, da morte de uma criança espanhola vale para qualquer época. 


"A senhora está no meio da praça quando ocorre a próxima explosão. O obus dispara um estilhaço de aço retorcido, afiado e incandescente, que acerta a garganta do menino. A velha senhora fica parada, [...] olhando o menino com um ar abobalhado, sem dizer nada."
           Ela não tinha os horários rígidos de um jornal; podia ir para onde quisesse e passar o tempo necessário. Cobriu a invasão soviética à Finlândia e esteve na guerra entre chineses e japoneses antes de os EUA entrarem no conflito, em 1941. Ironicamente, a partir daí teve mais problemas para trabalhar - ao contrário do então marido e também correspondente Ernest Hemingway (1899-1961).
Ernest Hemingway e Martha Gellhorn posam no terraço da casa em Sun Valley Lodge, em 1940
         Só em 1943 pôde cobrir a guerra na Europa - e o fez tão bem, ou melhor, que o marido. Hemingway era um garotão narcisista, figura central de vários de seus textos. Gellhorn era boa observadora. Dizia que, "para fins de higiene mental", desistira "de tentar pensar ou julgar" - embora deixasse clara, por exemplo, sua posição na Guerra dos Seis Dias (1967). Crítica do envolvimento dos EUA no Vietnã, ela condenou as restrições que surgiram depois para o registro de conflitos, como na Guerra do Golfo (1990-91). Seria curioso saber o que pensaria das coberturas pós 11 de Setembro, como do "encaixe" de jornalistas entre as tropas anglo-americanas que invadiram o Iraque em 2003 ou as restrições que Israel faz hoje à imprensa.
Arquivo: Gellhorn Hemingway 1941.jpg 
Sobre o livro A Face da Guerra, que ganhou edição brasileira em 2009: 
Não poderia haver um lançamento mais oportuno que "A Face da Guerra", coletânea de textos daquela que foi um dos maiores correspondentes internacionais do século 20. O livro sai pela Objetiva na coleção Jornalismo de Guerra, com curadoria de Leão Serva e do jornalista da Folha Sérgio Dávila.Seria possível dizer que Gellhorn (1908-1998) foi "a" mais notável correspondente de guerra do século 20. Mas seria sexismo. Na coragem e na qualidade dos escritos, ela não deixava nada a dever a ninguém. Os textos cobrem conflitos da Guerra Civil Espanhola (1936-39) à invasão americana do Panamá (1990). Separados no tempo por meio século, têm em comum a empatia com as principais vítimas dos conflitos: civis e soldados forçados a lutar.
             "Escrevi ficção porque adoro, e o jornalismo por causa da curiosidade que [...] só termina com a morte. Embora eu há muito tenha perdido a fé inocente de que o jornalismo é uma luz orientadora, ainda acredito que ela é melhor que a escuridão total", escreveu ela."
"Os oficiais de relações públicas do Exército americano, os patrões da imprensa americana, eram [...] dogmáticos que faziam objeção à presença de uma correspondente mulher junto às tropas", anotou ela na primeira edição do livro (1959)."
              Gellhorn permaneceu de esquerda durante toda a sua vida. Foi uma proeminente defensora de Israel e da República Espanhola. Ela era uma visitante freqüente de Israel depois de 1949. Ela não foi conhecida por ter elogiado o comunismo e o stalinismo, e por sua vez também recusou-se a criticá-lo. Conheceu Ernest Hemingway em Key West em 1936. Eles se casaram em 1940. Sua fama refletia como a terceira esposa de Hemingway, mas ela não tinha intenção de "ser uma nota de rodapé na vida de outra pessoa". Como condição para a concessão de entrevistas, o nome de Hemingway não deveria ser mencionado. Seu casamento durou até 1945.

           Em 1949, Gellhorn adotou um menino, Sandy, de um orfanato italiano. Embora Gellhorn tenha sido uma mãe dedicada, ela não era uma mulher maternal. Deixou Sandy aos cuidados de parentes em Englewood, Nova Jersey por um longo período de tempo. Sandy suportou muitas ausências de Gellhorn durante as suas viagens. Ele cresceu, e sua relação com a mãe tornou-se amargurada. Martha Gellhorn morreu em Londres em 1998, aos 89 anos, cometendo suicídio por overdose de drogas após uma longa batalha contra o câncer e cegueira quase total. Martha Gellhorn Prêmio de Jornalismo foi criado em sua homenagem. Publicou livros de ficção, escrita de viagens e de reportagem. Suas cartas selecionadas foram publicadas postumamente em 2006. Em 5 de outubro de 2007, a United States Postal Service anunciou que iria honrar cinco jornalistas de primeira classe do século 20 com selos postais, que foram emitidos em 22 de abril de 2008, entre os homenageados: Martha Gellhorn, John HerseyGeorge PolkRubén Salazar e Eric Sevareid.




      Hoje, dia 15 de fevereiro, faz 14 anos desde sua morte. Com certeza, Martha Gellhorn deixou um legado muito grande. Fica aqui, nossa homenagem a essa brilhante jornalista.
     Em outra postagem já tinha mencionado que o livro Por Quem Os Sinos Dobram, foi escrito por Ernest Hemingway, baseado em sua então esposa Martha Gellhorn. A série do canal por assinatura HBO chamada Hemingway e Gellhorn estreará em Maio. Será uma oportunidade para quem puder  conhecer melhor a história de pessoas que colaboraram para a informação e literatura, em um período difícil da História.

Obs.: E aí Kelem, futura jornalista, te anima ser correspondente de guerra?

Bjos, boa semana!

Comentários

  1. Amo essa história de amor, com final trágico, com suicídio para os dois, que morreram se amando, parece uma história de novelas. ass- cristina daflon.

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  2. Hemingway era genial e passional. Sua obra é de certa forma auto-biográfica de suas próprias aventuras. A sua 'carga genética' era de depressivo e suicida, sua neta, a modêlo Margot, também se suicidou sob os mesmos argumentos e no mesmo dia do avô: 2 de julho.

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  3. seu pai, um ilustre médico no seu estado natal de Illinois, também havia se suicidado.

    em continuação ao comentário anterior.
    Santos, 19/11/2012

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  4. Uma jornalista com qualidades imensuráveis. Vi primeiro o filme Hemingway and Gellhorn e passei a me interessar pela história da vida de Martha. Belíssimo relato sobre ela Laura!

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  5. Assisti o filme e me interesse em adquirir o livro "A face da guerra"

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  6. As histórias de amor nunca acabam bem! Infelizmente essa é a verdade!

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